quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

SERRA DA CANASTRA


texto e fotos: Jairo Souza Jr (dadasouza.com)


"Para se ter uma ideia de como é fascinante a paisagem ali, o leitor deve imaginar em conjunto tudo o que a natureza tem de mais encantador: um céu de um azul puríssimo, montanhas coroadas de rochas, uma cachoeira majestosa, águas de uma limpidez sem par, o verde cintilante das folhagens e, finalmente, as matas virgens, que exibem todos os tipos de vegetação tropical" 
Auguste de Saint-Hilaire, 1819 (Viagem às Nascentes do Rio São Francisco.

Cachoeira do Fundão - Foto: Jairo Souza Jr. - dadasouza.com 



 A região ecoturística da Serra da Canastra, no sudoeste de Minas Gerais, é exatamente assim. Com uma área que se estende por quase 200 mil hectares, englobando os municípios de Capitólio, Delfinópolis, Sacramento, São João Batista do Glória, São Roque de Minas e Vargem Bonita, a Canastra é pura imensidão.

Famosa por ter alguns dos mais belos cartões postais do Brasil, a região da Serra da Canastra passou muito tempo isolada do circuito turístico, principalmente por causa da dificuldade de acesso. Hoje a Canastra está no foco do ecoturismo brasileiro e chegar até lá não é mais nenhuma grande dificuldade. Difícil é querer ir embora.


Caminha para a CascaD´Anta - Foto: Jairo Souza Jr. - dadasouza.com 

A grandiosidade e a vastidão da Canastra encantam, mas nem tudo é só contemplação. A região possui trilhas, cachoeiras, rios, córregos, matas de galeria, capões, piscinas naturais e muitas nascentes de água. Definitivamente uma região privilegiada para a prática do ecoturismo e dos esportes de aventura.

A maior atração, claro, é o Parque Nacional da Serra da Canastra com sua natureza selvagem e rica em biodiversidade. A paisagem é sempre bonita com chapadas, chapadões, vegetação de savana, de Cerrado e de Mata Atlântica, com centenas de cachoeiras e quedas d´água e um bom número de animais silvestres ameaçados, como o tatu-canastra, o lobo-guará, o veado-campeiro e a suçuarana (onça parda).

Tamanduá-bandeira - Foto: Jairo Souza Jr. - dadasouza.com 



ARRAIAL DE SÃO JOÃO BATISTA DA SERRA DA CANASTRA

Imagine um lugar onde a água é pura, o ar é limpo, o sossego é intenso, o queijo é excepcionalmente gostoso e onde a natureza é rica e exuberante. O Arraial de São João Batista da Serra da Canastra é exatamente assim. Só não vou dizer que o local é extremamente silencioso porque a sinfonia dos pássaros é presente do primeiro ao último momento do dia.

Cachoeira do Jota - Foto: Jairo Souza Jr. - dadasouza.com


Desaceleração talvez seja a palavra para descrever o Arraial. Não importa quem é você ou de onde você vem, a Serra da Canastra tem seu próprio ritmo. A maioria das casas não tem televisão nem internet (coisa nova no arraial), as pessoas dormem cedo, acordam cedo e o mundo gira devagar. Aliás, essa é uma das delícias desse lugar.

O pequeno povoado com cerca de oitenta casas e com menos de 200 habitantes tem em sua vizinhança trilhas, cachoeiras, rios, águas sempre cristalinas e a portaria 2 do Parque Nacional da Serra da Canastra. São João é um local muito procurado pelos amantes da natureza, pelos praticantes de esporte de aventura, pelos observadores de aves e de animais silvestres, pela turma que gosta das cachoeiras e por quem precisa de sossego para recarregar as baterias.

Foto: Jairo Souza Jr. - dadasouza.com


A simplicidade extrema do Arraial proporciona uma espécie de mergulho a um passado onde a vida era simples e o ritmo era outro. São João cabe toda em uma foto. O pequeno arraial tem uma igreja católica, um templo evangélico e três pequenos comércios: um mercado (que tem o básico), um empório (que tem utilidades domésticas e ferramentas) e uma padaria. Nenhum deles aceita cartão e a padaria na verdade é uma casinha não muito simpática que faz pão, pizza e vende pinga (e que pode estar fechada as 8:30 da manhã).
A religião é muito presente na cultura local; Cerca de 70 % da população do Arraial é evangélica, inclusive os donos dos mercados, que aos sábados e domingos fecha mais cedo por causa dos cultos. A população católica se reúnem na igreja da cidade as quintas a noite para rezar o terço e quinzenalmente aos domingos.

Paralelo ao mundo religioso, existem as pousadas, as casas de aluguel e o Bar Velho Chico, que frequentemente faz ótimas festas. Eu normalmente fico nas casas da Casacanastra, que são casas bem estruturadas em um dos locais mais sossegados do já sossegado arraial. Gosto de lá por causa da calma, da tranquilidade, de estar rodeado de árvores frutíferas, tucanos e uma infinidade de espécies de pássaros. Sem falar que os donos dessas casas são ótimas pessoas. Mas também tem a pousada do Mapelli e um Camping com boa estrutura. Como as opções de hospedagem são poucas, é sempre bom antecipar suas reservas. No caso do Reveillon e do Carnaval, por exemplo, com BASTANTE antecedência.







PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA


“Enquanto tive diante dos meus olhos a Serra da Canastra, desfrutei de um panorama maravilhoso. À direita descortinava uma vasta extensão de campinas e à esquerda tinha a serra, do alto da qual jorravam quatro cascatas.”
Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853) em “Viagem às nascentes do rio São Francisco”

Veado-campeiro - Foto: Jairo Souza Jr. - dadasouza.com

Criado em 1972 para proteger a nascente do rio São Francisco, o Parque Nacional da Serra da Canastra é um pequeno pedaço do paraíso. Formado por chapadas, chapadões, campos e florestas e fauna e flora riquíssimas, o visual da Canastra é realmente impressionante. Quem não gosta de natureza vai dizer que não tem nada lá. E não tem mesmo. Mas para quem gosta de natureza, a Canastra proporciona um mergulho na riquíssima natureza do cerrado.  

Dizem os estudiosos que a Serra da Canastra é a caixa d´água do Brasil, pois de suas nascentes se formam os rios São Francisco e Paraná, duas das maiores bacias hidrográficas do Brasil. Para todo lado que se olha existem nascentes, córregos de água limpa e cristalina e um número muito grande de cachoeiras e quedas d´água.  

Nascente do rio São Francisco - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com
Maitaca-verde - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

Cobra-verde - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

Mas nem tudo são flores no Parque Nacional da Serra da Canastra. O Parque quase não tem estrutura, as estradas quase sempre são muito ruins e as queimadas são uma ameaça constante. O maior risco que o Parque corre, porém, vem do próprio governo, que há tempos vem atuando em ambos os lados da discussão sobre a redução da área do Parque. Existem fortes interesses econômicos trabalhando para liberar a área para as mineradoras. As imensas reservas de quartzito e diamante da Canastra é ao mesmo tempo sua riqueza e sua maior ameaça.

A falta de estrutura é realmente nítida. Você entra a pé (para caminhar muuuito), de bike (idem) ou com seu carro e está por conta própria. As estradas podem variar de razoável para ruim até muito ruim dependendo da época do ano e da região do Parque (o melhor mesmo é ir com veículos com tração nas 4 rodas). Eu fiz essa viagem com um Peugeot 307. Ele sofreu um pouco em três ocasiões, mas fui na época das chuvas em uma semana de chuvas intensas. De resto foi tranquilo. Se o meu carro vai, o seu também vai.



O conflito entre a preservação e a subsistência também é uma constante. As plantações e o gado estão quase subindo o Parque, os eucaliptos estão tomando cada vez mais espaço (e ameaçando as águas) e os agrotóxicos já rodeiam o parque há algum tempo. Esse espaço singular da natureza brasileira vem sofrendo agressões diárias e constantes.



As queimadas são um dos principais problemas do Parque. E pelo que escutei diversas vezes, existem os incêndios causados por causas naturais e existem os incêndios provocados pelo homem com suas fogueiras e bitucas de cigarro e também os incêndios criminosos. Um morador do Arraial (e membro de um grupo que trabalha diariamente no Parque) me garantiu que até hoje pessoas que tiveram suas terras desapropriadas pelo Parque ateiam fogo todo ano no Parque por raiva ou vingança.


O problema que mais ameaça o Parque, no entanto, vem do próprio governo federal, que vem há tempos vem tentando liberar a mineração na região para beneficiar algumas mineradoras. Fortes interesses econômicos não só ameaçam uma área com proteção ambiental integral, como estão a um passo de concretizar seu plano que trará grandes impactos ambientais à região.



QUEIJO CANASTRA

Considerado patrimônio imaterial do Brasil pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Queijo Canastra é uma das maiores atrações da região. Uns dizem que é por causa da altitude, outros dizem que é por causa do clima, outros dizem que é por causa do pasto, o fato é que o queijo produzido há mais de 200 anos na região da Canastra é realmente espetacular e considerado um dos melhores queijos do mundo.

No arraial você pode comprar o queijo Canastra na fazenda do Jota ou da Dona Dalva (que faz um queijo muito bom) mas na região existem muitos produtores com opções para todos os bolsos. Depois que a produção do Queijo Canastra foi regulamentada os preços subiram bastante e produtores artesanais menores (não associados a Associação Regional dos Produtores de Queijo da Canastra) inclusive sofrem uma certa perseguição. No arraial comprei um queijo bem grande (e delicioso) direto com a Dona Dalva e paguei R$ 25 por ele. Mas sei que tem queijo com o selo da Canastra sendo vendido por R$ 100 a peça e ambos certamente valem a pena. 




“Seremos mais felizes possamos vivenciar e compartilhar um ambiente natural limpo, com ar, água, luz, espaço, sons e imagens que possam garantir nossos bem-estar e saúde, preservando e garantindo a sustentabilidade futura desse ambiente para nós e para os outros das gerações presentes e futuras”. - Paulo Lima, editor da Revista Trip



CACHOEIRAS

Sinceramente não sei quantas cachoeiras tem na Serra da Canastra. Provavelmente algumas centenas de quedas d´água de todos os tipos, tamanhos e formatos. Algumas só aparecem na época das chuvas, outras são sempre ativas, mas realmente são muitas as cachoeiras nessa região. A mais famosa delas é a Casca D´Anta, a primeira queda do rio São Francisco. Com mais de 200 metros de altura essa cachoeira é um dos grandes cartões postais do Parque.

As cachoeiras mais famosas da canastra são a Casca D´Anta, a cachoeira do Jota (São João), dos Rolinhos, do Lavapés, do Rolador, do Antônio Ricardo, do Vento, dos Quilombos, do Fundão, da Lavra, da Chinela, do Cerradão, do Fundão, Rasga Canga, Capão Forro e Cachoeira da Parida. Nomes estranhos para cachoeiras lindíssimas. Umas dentro do parque, outras fora. A maioria delas contemplativas e também proveitosas.

Dica de Segurança: Cachoeiras são lindas e convidativas, mas é não só é bom, mas é muito recomendável tomar muito cuidado com as cachoeiras nos meses de verão. O risco de tromba d´água é sempre grande e o que não falta são histórias apavorantes ou fatais nas cachoeiras em dias de chuva. Nas cachoeiras e piscinas naturais é recomendável sempre marcar o nível da água em alguma pedra ou galho e ficar sempre monitorando. Se o nível subir um pouquinho que seja, saia do local imediatamente. 






CACHOEIRA DA PARIDA

Alguns lugares são tão bonitos e tão importantes por suas riquezas naturais que deveriam ser transformados em santuário. A Cachoeira da Parida, uma das quedas d´água mais lindas da Serra da Canastra, definitivamente é um desses lugares. Ironicamente essa cachoeira e seus poços de águas cristalinas estão localizados fora do Parque Nacional da Canastra. Mas quem liga para isso? A Parida tem uma beleza natural exuberante, fontes de água mineral, piscinas naturais de águas transparentes, trilhas para caminhadas e uma das mais belas cachoeiras de Minas Gerais. 

A vida ao ar livre e o contato com a natureza selvagem e preservada é o que de melhor a Serra da Canastra oferece. Você pode observar tucanos, tamanduás-bandeira e uma grande quantidade de aves e de animais silvestres. Com alguma sorte é possível avistar até um lobo-guará ou uma onça parda (na parte alta da cachoeira). A riqueza natureza do local realmente impressiona e as cachoeiras são verdadeiras jóias escondidas entre as pedras e a mata. Segundo o Seu Manoel Peres, o proprietário do local, só existem águas com esse nível de transparência em Bonito (MS), na Chapada Diamantina (BA) e na Cachoeira da Parida (MG). As águas são cristalinas 365 dias por ano, mas dependendo da época pode variar um pouco a sua








 tonalidade.

REFUGIO from Dadá Souza on Vimeo.



OBSERVAÇÃO DE AVES


O Brasil é o terceiro país no mundo com mais espécies de aves e a Serra da Canastra é um dos melhores lugares do Brasil para quem gosta de observar aves. Devido a sua geografia, a Canastra reúne aves endêmicas do Cerrado e da Mata Atlântica, aves raras e ameaçadas de extinção e inúmeras oportunidades de observação. Para você ter uma ideia, só o município de São Roque de Minas possui 351 espécies de aves registradas no wikiaves.com.br. Sacramento, a próxima entrada do parque, tem 372 espécies.  O potencial da região é enorme e existem guias especializados que atendem a região. A melhor época para observação de aves é de setembro a dezembro.

Saí-azul - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

Canario-da-terra-verdadeiro - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

Polícia-inglesa-do-sul - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

Codorna-amarela - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

Tucano-de-bico-verde - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

Galito - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

Maria-preta-de-penacho - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

João-bobo - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

Tie-preto - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com

Trinca-ferro-verdadeiro - Foto: Jairo Souza Jr - dadasouza.com


DICAS
Leve dinheiro. Não há bancos por lá (Somente em São Roque de Minas) e ninguém tem maquininha de cartão.
Mesmo com tanta água circulando na região, o clima pode ser extremamente seco. É importante sempre carregar uma boa quantidade de água.
A distância entre os pontos turísticos da região é grande e um carro off-road é sempre bem-vindo. Alguns carros de passeio sofrem um pouco para chegar até lá pois as estradas nem sempre são boas no árido cerrado mineiro. Mas as belezas da região certamente compensam.
NUNCA jogue cigarros pela janela do seu carro. O clima na Serra é muito seco e muito frágil e um simples cigarro pode acabar colocando fogo no Parque. Centenas de queimadas começam assim todo ano. Fogueiras também são proibidas!

NÃO ande de jeep ou de moto fora das estradas. Muitos animais são atropelados e acabam morrendo pela “diversão” de um indivíduo, sem falar na frágil vegetação do Cerrado que também acaba destruída.

NUNCA deixe seu lixo na natureza ou perto das cachoeiras. A água é a maior riqueza da Canastra.


COMO CHEGAR
Saindo da cidade de Araxá, você pega a estrada que leva a Franca e entra a esquerda em direção a cidade de Tapira. Logo depois que passa a entrada do Horizonte Perdido, existe uma cidade de terra que leva a Tragédia, um pequeno povoado localizado na beira da estrada. Dali é só seguir as discretas placas que indicam o caminho até o Arraial.

COORDENADAS
Latitude: S20°06.752´
Longitude: WO46°39.212´

ONDE FICAR
Em São João existem algumas opções de hospedagens e você pode optar entre pousadas, campings e casas de aluguel, mas o número de leitos no arraial é limitado. Melhor se certificar que há vagas antes de ir até lá.

ONDE COMER
O Bar do Seu Vicente e o Bar do Velho Chico são duas boas opções no Arraial. Mas em todos eles, é melhor encomendar antes a refeição. 

MELHOR ÉPOCA
A melhor época de visitar a região é durante os meses de seca (de maio a outubro), quando as estradas estão melhores e as chances de ver espécies da vida silvestre é maior.


domingo, 15 de fevereiro de 2015

AS REGRAS DO ECOTURISMO



O Ecoturismo é uma das atividades turísticas mais prazerosas que uma pessoa pode experimentar. Ir a lugares onde pouca gente vai, experimentar sensações intensas junto à natureza e olhar de perto as belezas naturais de uma região são experiências únicas. Mas claro, da mesma maneira que alguém que visita grandes cidades turísticas corre alguns riscos (acidentes, assaltos, etc), as atividades de ecoturismo e de turismo rural oferecem algum eventual risco aos visitantes, como escorregões, insolação, afogamento ou contato com animais peçonhentos.

Em mais de 30 anos de contato com a natureza, nunca tive um único acidente ou contratempo, provavelmente porque sempre respeitei algumas regras de segurança que foram fundamentais para a minha segurança. Segue aqui as principais (e valiosas) regras para os ecoturistas.

- Procure utilizar guias e agências autorizadas a operar com ecoturismo. Isso vai lhe economizar tempo e vai ajudar você a evitar problemas. Verifique sempre se o guia conhece bem a região e se ele tem treinamento em primeiros socorros e kit de primeiros socorros.

- Sempre leve uma mochila com água, repelente, protetor solar, telefone (ou rádio), apito, lanterna e algum alimento. Também é indicado você levar um kit de primeiros socorros e alguns medicamentos básicos para o caso de algum acidente ou mal estar.

- Leve sua máquina fotográfica e registre as belezas naturais dos locais que visita.

- Nunca, em hipótese alguma, deixe resto de alimentos, latinhas de refrigerante/cerveja ou qualquer tipo de lixo nos lugares que você visita. A poluição é algo abominável e indesejável em qualquer passeio ecológico. Sempre leve sacolas plásticas para recolher o seu lixo e o descarte somente em lugares apropriados (longe da natureza).

- Sempre use roupas e calçados apropriados para o tipo de passeio que você vai fazer.

- Música alta além de não combinar com ambientes naturais, só demonstra que você não respeita o gosto ou a paz das outras pessoas. Use fones de ouvido!

- Honre e preserve seu bom humor e esteja sempre disposto a colaborar. Na natureza somos muitos mais fortes quando estamos unidos. E ninguém quer fazer um passeio no meio do mato com uma pessoa “mala”.

- Se informe sobre a previsão do tempo e leve roupas adequadas. Chuvas são especialmente perigosas para quem vai visitar cachoeiras e canyons.

- Procure fazer passeios e trilhas adequadas ao seu preparo físico. Muitos dos locais bonitos que vemos nas fotos só são acessíveis por trilhas que exigem algum esforço físico.

- Não se arrisque em trilhas com pessoas desconhecidas ou despreparadas. A inconseqüência e a ousadia são grandes atalhos para grandes problemas.

- Em lugares de mata fechada ou de difícil acesso, recomenda-se o uso de bússola e mapa ou carta topográfica.

- Só pratique ecoturismo em trilhas e locais oficiais, devidamente mapeados.




- Avise amigos ou familiares sobre os passeios que vai fazer e a que horas pretende voltar. Isso pode ajudar muito se você tiver algum problema. Se ninguém souber onde você está, ninguém pode organizar um resgate.

- Em caso de problemas, mantenha a tranqüilidade, procure acalmar os mais nervosos e nunca divida o grupo. Procure acompanhar o leito dos rios, se preciso use como referência o barulho das corredeiras e cachoeiras. Os rios sempre levarão você fazendas ou a povoados.

- Se você tem um jeep ou camionete 4x4, evite andar fora das estradas. Assim você evita atropelar pequenos animais silvestres e a danificar tocas ou resquícios arqueológicos.

- Nunca leves drogas ou bebidas alcoólicas em passeios pelo mato ou em lugares que tem cachoeiras ou rios. Além de ser uma tremenda imprudência, é algo incompatível com esse tipo de passeio. Pessoas alcoolizadas ou drogadas cometem mais erros, são mais arrogantes em relação a natureza e deixam muito mais sujeira por onde passam. Deixe para tomar aquela cervejinha no momento em que você retornar para casa ou para a pousada.

- Respeite a natureza acima de tudo e minimize os impactos ambientais causados pelo seu passeio.
Nunca mate qualquer tipo de animal ou de planta. Toda e qualquer espécie é muito importante para o equilíbrio do meio ambiente.

- Não mergulhe em locais que você não conhece nem fique pulando de cachoeiras. O número de acidentes fatais nesse tipo de “brincadeira” é muito mais alto do que você imagina.

- Procure comprar comidas e mantimentos nas comunidades que você visita. Além de contribuir para o desenvolvimento dessas comunidades, você provavelmente consumirá alimentos mais saudáveis e naturais.

- Nunca, em hipótese alguma, faça fogueiras ou jogue cigarros em locais de vegetação seca. As queimadas matam centenas de animais, aniquilam florestas e podem colocar sua própria vida em risco.




Da natureza nada se tira a não ser fotos.
Nada se deixa a não ser pegadas.
Nada se leva a não ser recordações.




quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

CACHOEIRA DA PARIDA (MG)




Alguns lugares são tão bonitos e tão importantes por suas riquezas naturais que deveriam ser transformados em santuário. A Cachoeira da Parida, uma das quedas d´água mais lindas da Serra da Canastra, definitivamente é um desses lugares. Ironicamente essa cachoeira e seus poços de águas cristalinas estão localizados fora do Parque Nacional da Canastra. Mas quem liga para isso? A Parida tem uma beleza natural exuberante, fontes de água mineral, piscinas naturais de águas transparentes, trilhas para caminhadas e uma das mais belas cachoeiras de Minas Gerais. 

A vida ao ar livre e o contato com a natureza selvagem e preservada é o que de melhor a Serra da Canastra oferece. Você pode observar tucanos, tamanduás-bandeira e uma grande quantidade de aves e de animais silvestres. Com alguma sorte é possível avistar até um lobo-guará ou uma onça parda (na parte alta da cachoeira). A riqueza natureza do local realmente impressiona e as cachoeiras são verdadeiras jóias escondidas entre as pedras e a mata. Segundo o Seu Manoel Peres, o proprietário do local, só existem águas com esse nível de transparência em Bonito (MS), na Chapada Diamantina (BA) e na Cachoeira da Parida (MG). As águas são cristalinas 365 dias por ano, mas dependendo da época pode variar um pouco a sua tonalidade.


A Cachoeira da Parida leva esse nome por causa de uma antiga história que conta que uma escrava grávida teria dado a luz ali, na beira do córrego. Como a criança foi parida no local, o apelido pegou e a lenda ficou perpetuada no nome da cachoeira. 


O acesso até o local não é difícil e fica a aproximadamente 75 km do aeroporto da cidade de Araxá. Para quem procura paz, sossego e água pura, é uma ótima pedida. Pelo que li, além da cachoeira da Parida a cidade de Sacramento tem mais de 200 cachoeiras catalogadas.





Diz o Seu Manoel que foi o avô dele quem tirou os índios do local e os levou para o Mato Grosso porque os índios roubavam as plantações da família. Na parte alta da Parida ainda existem algumas pinturas rupestres deixadas pelos índios que habitaram a região no passado. Solitário e apaixonado pela natureza, o Manoel toma conta daquelas terras como ninguém. Contador de histórias, adora pregar uma peça e tem sua casa rodeada de tucanos, canários, maritacas e tamanduás. Diz ele que até discos voadores aparecem por lá. O Seu Manoel só fica bravo quando alguém aparece ali para caçar, pescar ou para colocar som alto. Quem desobedece às regras é colocado pra fora do local e o IBAMA é acionado, afinal o que todos valorizam ali é a integração e comunhão com a natureza. Caçadores, pescadores e bagunceiros não são bem vindos no local.




A Parida fica localizada na borda do Parque Nacional da Serra da Canastra, entre os municípios de Tapira, Sacramento e São Roque de Minas. De um pequeno cânion incrustado nas rochas, brotam duas quedas d´água que formam um grande poço de águas profundas e cristalinas. Ali fica a Cachoeira da Parida. As águas dessa cachoeira serpenteiam pelas pedras e formam uma segunda queda d´água, mais abaixo, que cai em uma segunda piscina, também profunda e de águas verdes, chamada de "Poço do Macaco". O nome vem do formato da pedra que fica do lado esquerdo da queda e que lembra um macaco (embora muitas pessoas digam que enxergam ali uma pedra com forma de urso ou de um tubarão). Já próximo da casa do seu Manoel, o pequeno riacho forma uma piscina natural de águas incrivelmente transparentes que mais para frente deságua no Rio das Velhas que depois se transforma no Rio Araguari e vai até o sul do Brasil. A importância dessas águas é vital não só para a preservação da riquíssima fauna e flora da região, como para todo o Brasil, já que faz parte de uma importante bacia hidrográfica.




Tanto o poço da Cachoeira da Parida quanto o Poço do Macaco são bastante profundos. Algumas pessoas me falaram que ali tem mais de 6 metros de profundidade, e acredito que tenha mesmo. Mas sinceramente, ainda não fiz a medição.






COMO CHEGAR

Você pode chegar à Parida via Sacramento ou pela cidade da Tapira. Eu fui pela Tapira. Saindo de Araxá, peguei o trevo que leva a cidade da Tapira. São 50 km de Araxá até lá. Dali se pega uma estrada de terra que segue mais uns mais 25 km até a Cachoeira da Parida. 


A melhor maneira de ir até a Parida é com um guia especializado. O caminho até lá tem diversas bifurcações e quem não conhece a região pode se perder bem fácil. Com os serviços de um guia especializado você chega mais fácil, mais rápido e ainda recebe informações úteis e interessantes sobre o local.






DICAS



A piscina natural fica bem próxima a casinha do Seu Manoel. È possível chegar de carro até ela sem dificuldade. Ideal para todas as idades.

Para os que procuram a cachoeira, uma pequena trilha leva até o Poço do Macaco, uma pequena queda, de no máximo 3 metros de altura. Essa queda já é bastante proveitosa, mas ainda não é a cachoeira da Parida. Para chegar lá é preciso atravessar esse poço nadando e escalar a pequena queda. Depois é só seguir o curso d´água que serpenteia pelo cânion até chegar na queda maior. O lugar é de uma beleza indescritível. Duas quedas com cerca de 20 metros de altura despejam suas águas num poço de águas cristalinas. A caminhada não é difícil, mas é feita pelas pedras, o que exige bastante das pernas. E para voltar ao poço dos Macacos, o salto de 3 metros de altura é obrigatório. Descer pela cachoeira é bem mais perigoso. Eu diria que esse é um passeio de nível fácil até o poço do macaco e médio até a cachoeira.

Vale a pena levar óculos de mergulho e até nadadeiras. O mergulho ali é de uma visibilidade fora do comum.  Repelente, água, frutas, máquina fotográfica, protetor solar e boné são sempre aconselháveis.

Nunca deixe latas de cerveja, restos de comida ou qualquer tipo lixo no local. Se você procura cachoeiras onde se pode beber e fazer churrasco, a Parida não é o seu lugar.

A água é sempre cristalina e sempre gelada. Embora o gostoso seja sentir a água gelada, uma roupa de neoprene (wetsuit) pode tornar seus mergulhos bem mais duradouros e confortáveis.


As portas da casa do Seu Manoel estão sempre abertas e ele vai convidar você para tomar um café. Ali na fazendinha ele produz e também vende o famoso Queijo da Canastra. Com toda certeza, um dos melhores queijos do Brasil.


Não fique pulando das pedras. Saltar das cachoeiras é sempre uma atividade de grande risco e muitas pessoas ficam em cadeiras de roda por causa disso.

Outra dica importante: evite ir à cachoeira durante a época de chuvas (verão). O risco de encarar uma tromba d´água é grande e como a cachoeira fica em um cânion, não há como fugir. É sempre aconselhável observar o nível da água utilizando uma pedra ou graveto como referência. Se o nível da água subir, mesmo que seja só um pouquinho, saia do local imediatamente. Às vezes chuvas que caem a muitos quilômetros de distância podem triplicar o volume de água na cachoeira em questão de segundos. Fique esperto.





VALOR


Para passar o dia na Cachoeira o Seu Manoel cobra o valor de R$ 10,00 por pessoa.

Aos interessados, lá ele vende o famoso queijo da canastra por R$ 30,00 a peça (aproximadamente 2 kg).



A região é muito procurada por esportistas e por amantes da natureza

Cachoeira da Parida

Mergulho nas piscinas naturais da Parida

A caminhada até a cachoeira é feita através de um canyon. Evite ir em dias nublados e nunca vá em dias de chuva.

Cachoeira da Parida em um dia com bastante água



Detalhes da estrada que leva até a Parida

Na volta da Cachoeira o salto no Poço do Macaco é obrigatório

Seu Manoel Peres em lua lida diária

Ovo caipira, orgânico e fresquinho

A famosa pedra do macaco

Produção do famoso Queijo da Canastra

 A água é tão clara que engana. Parece uma fina lâmina d´água, mas tem um metro de profundidade.

Poço do Macaco

A queda do Poço do Macaco vista de cima


 Dois ângulos da piscina natural da cachoeira da Parida

O autor desse texto, aproveitando a vida.

Não deixe nada além de pegadas;
Não tire nada além de fotos;
Não mate nada além de tempo.
AJUDE A PRESERVAR E A PROTEGER ESSE LUGAR.

Texto, fotos (GoPro) e videos: Dadá Souza